segunda-feira, 15 de outubro de 2012

LEITURA, TEXTO E CONTEXTO

Durante o curso de graduação em Letras, tive a oportunidade de ler o livro: "A importância do ato de ler", de Paulo Freire. 
A partir desse encontro, pude  construir conceitos libertadores  a  respeito da necessidade de se criar um olhar mais crítico sobre a leitura, instrumentalizando-me para a prática democrática da construção de sentidos, inclusive em sala de aula. 
Como resultado dessa experiência, escrevi um artigo que gostaria de compartilhar com todos vocês. 
Nesse dia dos professores, minha homenagem a esse grande educador Paulo Freire que estava muito a frente de seu tempo. Com sua sabedoria, nos ensinou que "a leitura do mundo precede a leitura das palavras".

Um excelente dia dos professores para todos nós. 

Prof. Saulo César Paulino e Silva

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LEITURA, TEXTO E CONTEXTO


Prof. Dr. Saulo César Paulino e Silva


“Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: mundo sem fundo.Uma parte de mim é multidão; outra parte estranheza e solidão.  Traduzir uma parte noutra parte  - que é uma questão de vida ou morte –  Será arte?”
Ferreira Gullar

            Partindo-se de uma perspectiva fenomenológica, particularmente haidegeriana, a construção do “hic et nunc” (aqui agora) prima pela necessidade de se lançar um novo olhar para o ato de ler, concebendo-o como uma ação libertadora do Ser, reconstrutor de desejos e sentidos. Tradutor de sonhos, vivências e perspectivas.
            Torna-se fundamental a percepção do leitor como agente participador de um processo interativo, (re) descobrindo (- se) no texto e no contexto, sujeito de sua própria história. Se para o poeta, em epígrafe, o traduzir-se humano significa, ainda que subjetivamente, o singular se complementando no plural ou, nas suas palavras: “uma parte de mim é multidão, outra parte estranheza e solidão”, pode-se afirmar que leitor, autor, texto e contexto são fundamentais para a realização do processo interacional-comunicativo.
            Entende-se que um texto é criado a partir da ótica subjetiva do autor, inserido em determinada realidade social. A construção textual é o resultado da trama de relações sócio-cognitivas que irá dinamizar as informações nas memórias de curto e longo prazos desse mesmo autor.
            Por outro lado, o leitor, para compreender e interpretar a mensagem deverá reconstruir sentidos. Ou seja, ele estará, por meio de sua ótica pessoal e também subjetiva, preenchendo o que Umberto Eco (2000) denomina de vazios textuais. Preencher vazios é dinamizar  informações culturais e vivenciais. Por isso um mesmo texto, segundo esse pesquisador, proporciona diferentes interpretações, porém nem todas. O leitor, para ser competente, deverá manter uma linha interpretativa coerente com o assunto proposto.
            Tem-se, assim, autor e leitor intrinsecamente relacionados ou nas palavras  de Barthes (1988): o nascimento do leitor prescinde da morte do autor. Partindo-se dessa premissa, conceitua-se texto como um elo processual interativo entre ambos.
            Por isso torna-se importante observar que, ao se definir texto, não se deverá concebê-lo  como produto pronto e acabado. Deve-se conceituá-lo como processo a ser reconstruído e desvelado. Isso ocorre porque  sem a presença do leitor, Ser/Sujeito, o texto torna-se um amontoado de  letras mortas.
            Abrem-se, dessa forma, novas  portas para o ensino de Língua Portuguesa, especificamente no campo da leitura, objetivando-se priorizar: o leitor,  o autor e o contexto. A perspectiva relacional proporcionada por esses três elementos cria condições para a manifestação fenmenológica desse leitior, contextualizando-o e referencializando-o na sociedade.
            Se no passado teorias apontavam a leitura como uma ação mecanicista, aliendadora na interpretção do código, há que se relevar, hoje, a revisão de tais conceitos. O Sujeito/Leitor não pode ser mais considerado “um vazio” a ser preenchido. A leitura e a interpretação significam muito mais do que a busca de respostas prontas e acabadas. Todo homem sempre tem muito a ensinar e também a aprender, parafreseando Freire (1994) quando afirma que ninguém sabe tudo.
            A visão tradicional e conservadora, definiu que ensinar era ditar conhecimentos. Hoje pode-se afirmar que  ensinar – a ler – é compartilhar conhecimentos, (re)descobrir caminhos, reconhecendo-se que sem sabedoria o homem se torna mera ferramenta de ideologias perversas.
            Portanto caberá ao professor, particularmente de Língua Portuguesa, ser também educador, apresentar ao seu aluno a proposta de uma leitura crítica, caracterizada como instrumento democrático que possa proporcionar a esse Leitor/Sujeito o direito de  exercer sua plena cidadania, o pleno exercício de (o) Ser individual e coletivo.




Referências Bibliográficas


 BARTHES, Roland. A morte do autor. São Paulo:Brasiliense, 1988.

Eco, Umberto. Os limites da interpretação. Tradução: Perola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2000.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: cortez, 1994.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. 14ª. Ed.

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