A partir desse encontro, pude construir conceitos libertadores a respeito da necessidade de se criar um olhar mais crítico sobre a leitura, instrumentalizando-me para a prática democrática da construção de sentidos, inclusive em sala de aula.
Como resultado dessa experiência, escrevi um artigo que gostaria de compartilhar com todos vocês.
Nesse dia dos professores, minha homenagem a esse grande educador Paulo Freire que estava muito a frente de seu tempo. Com sua sabedoria, nos ensinou que "a leitura do mundo precede a leitura das palavras".
Um excelente dia dos professores para todos nós.
Prof. Saulo César Paulino e Silva
*********************************************************************************
LEITURA,
TEXTO E CONTEXTO
Prof. Dr. Saulo César Paulino e Silva
Ferreira Gullar
Partindo-se
de uma perspectiva fenomenológica, particularmente haidegeriana, a construção
do “hic et nunc” (aqui agora) prima
pela necessidade de se lançar um novo olhar para o ato de ler, concebendo-o
como uma ação libertadora do Ser, reconstrutor de desejos e sentidos. Tradutor
de sonhos, vivências e perspectivas.
Torna-se
fundamental a percepção do leitor como agente participador de um processo
interativo, (re) descobrindo (- se) no texto e no contexto, sujeito de sua
própria história. Se para o poeta, em epígrafe, o traduzir-se humano significa, ainda que subjetivamente, o singular
se complementando no plural ou, nas suas palavras: “uma parte de mim é multidão, outra parte estranheza e solidão”, pode-se
afirmar que leitor, autor, texto e contexto são fundamentais para a realização
do processo interacional-comunicativo.
Entende-se
que um texto é criado a partir da ótica subjetiva do autor, inserido em
determinada realidade social. A construção textual é o resultado da trama de
relações sócio-cognitivas que irá dinamizar as informações nas memórias de
curto e longo prazos desse mesmo autor.
Por
outro lado, o leitor, para compreender e interpretar a mensagem
deverá reconstruir sentidos. Ou seja, ele estará, por meio de sua ótica pessoal
e também subjetiva, preenchendo o que Umberto Eco (2000) denomina de vazios
textuais. Preencher vazios é dinamizar
informações culturais e vivenciais. Por isso um mesmo texto, segundo
esse pesquisador, proporciona diferentes interpretações, porém nem todas. O
leitor, para ser competente, deverá manter uma linha interpretativa coerente
com o assunto proposto.
Tem-se,
assim, autor e leitor intrinsecamente relacionados ou nas palavras de Barthes (1988): o nascimento do leitor
prescinde da morte do autor. Partindo-se dessa premissa, conceitua-se texto
como um elo processual interativo entre ambos.
Por
isso torna-se importante observar que, ao se definir texto, não se deverá
concebê-lo como produto pronto e
acabado. Deve-se conceituá-lo como processo a ser reconstruído e desvelado.
Isso ocorre porque sem a presença do
leitor, Ser/Sujeito, o texto torna-se um amontoado de letras mortas.
Abrem-se,
dessa forma, novas portas para o ensino
de Língua Portuguesa, especificamente no campo da leitura, objetivando-se
priorizar: o leitor, o autor e o
contexto. A perspectiva relacional proporcionada por esses três elementos cria
condições para a manifestação fenmenológica desse leitior, contextualizando-o e
referencializando-o na sociedade.
Se
no passado teorias apontavam a leitura como uma ação mecanicista, aliendadora
na interpretção do código, há que se relevar, hoje, a revisão de tais
conceitos. O Sujeito/Leitor não pode ser mais considerado “um vazio” a ser
preenchido. A leitura e a interpretação significam muito mais do que a busca de
respostas prontas e acabadas. Todo homem sempre tem muito a ensinar e também a
aprender, parafreseando Freire (1994) quando afirma que ninguém sabe
tudo.
A
visão tradicional e conservadora, definiu que ensinar era ditar conhecimentos.
Hoje pode-se afirmar que ensinar – a ler
– é compartilhar conhecimentos, (re)descobrir caminhos, reconhecendo-se que sem
sabedoria o homem se torna mera ferramenta de ideologias perversas.
Portanto
caberá ao professor, particularmente de Língua Portuguesa, ser também educador,
apresentar ao seu aluno a proposta de uma leitura crítica, caracterizada como
instrumento democrático que possa proporcionar a esse Leitor/Sujeito o direito
de exercer sua plena cidadania, o pleno
exercício de (o) Ser individual e coletivo.
Referências
Bibliográficas
BARTHES, Roland. A morte do autor. São
Paulo:Brasiliense, 1988.
Eco, Umberto. Os limites da
interpretação. Tradução: Perola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2000.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler.
São Paulo: cortez, 1994.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo.
Rio de Janeiro: Vozes, 2005. 14ª. Ed.
Nenhum comentário:
Postar um comentário